FELIZ, BEM FELIZ!
Semanas repletas de contratempos me impediam de fazer uma importante visita: conhecer a recém-inaugurada Biblioteca Municipal “Machado de Assis,”na pequena cidade onde vivo.
Sou um entusiasta de ações que prestegiam a cultura, principalmente quando ocorrem em lugares negligenciados por uma dezena de abutres engravatados que preferem o concreto aos livros.
Deixo os abutres de lado, voando baixo, mas sempre na mira de meu rifle, e volto pra esse encontro mágico com os livros. Adentrar numa biblioteca, seja ela qual for, esteja onde estiver, é sempre um encantamento, um deleite, e confesso: meus olhos se encantaram com o que viram, uma profusão de títulos e autores capaz de assanhar qualquer amante da literatura: Jorge Amado, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Aldous Huxley, Agatha Christie, Ariano Suassuna, José Lins do Rego, Shakespeare, Nelson Rodrigues….enfim, um verdadeiro oásis nesses dias áridos de devastação intelectual, nesses dias onde se é facil localizar centenas de jovens trancafiados em Lan Houses, grudados diante um monitor de computador, como zumbis robotizados, ou emudecidos – sim, emudecidos, pois se não ouvem, não falam – pelos fones de ouvido dessas traquitanas todas, celulares, I Pods, Mp 10, 500 ou 600, sei lá até onde vão essas geringonças…..
Não, não sou um fundamentalista enlouquecido que ignora os avanços tecnológicos, mas não sou mesmo! Mas não podemos negar seu poder de alienação….nada supera o prazer de se perder e se achar dentro de um bom livro!
Deixo o high tech de lado e volto à biblioteca, aos livros: vaguei ,sedento, por entre as prateleiras, o tempo corria, orgão público tem horário! Vi muita coisa além dos grandes nomes citados acima, chamou-me a atenção uma modesta, mas eficiente, reunião de títulos dedicados ao teatro. Continuei a busca. Nesse interim, me informei com o simpático atendente sobre as possibilidades de leitura. “Você escolhe o título, leva pra casa e devolve no prazo de uma semana, mas também pode renovar o empréstimo”, disse-me o rapaz. Claro que nesse rápido diálogo, corri os olhos pelo livro de ocorrências, me interessei por possíveis adesões, e sim, elas estavam lá. Graças a Deus, podemos ter esperanças!
Maravilha!, exclamei. Dei mais um rasante na prateleira dos romances, procurando por “O Mistério da Estrada de Sintra”, de Eça de Queiroz, mas encontrei “O Primo Basílio”. Esse já li, há centenas de anos, devo reler, mas não agora. Procurei por “98 Tiros de Audiência”, mas encontrei Janete Clair. “Será esse!”, quase gritei, quase dei pinta.
“Nenê Bonet”, esse foi o escolhido.” Literatura de mulherzinha”, dirão os abutres. “Não, meus amores, literatura de um escafandrista, de um intrépido aprendiz”, retrucarei de imediato.
Meus olhos faíscaram já nas “orelhas” do romance, as palavras “romance-folhetim”, “novela”, “drama”, “intriga” formaram uma sedutora armadilha. Mergulhei nela, em plena madrugada, e fechando o livro na conclusão do primeiro capítulo, adormeci com uma série de questionamentos: “O que me espera?”, “Por que diabos uma bem nascida filha de fazendeiros fora trancafiada num manicômio, na efervescente década de 20, pelo seu marido de indole duvidosa?”, “Terá essa trama, um único crápula?”
Mal posso esperar. Por isso digo, estou feliz, bem feliz. Por esse resgate à cultura, por essa ode aos livros, por esse encontro com Lady Clair!
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